Friday, March 28, 2008

A MELHOR SELEÇÃO QUE O MUNDO JÁ VIU JOGAR


Com os 50 anos da Bossa Nova bateu uma onda saudosista; e como futebol é cultura, vou relembrar o que foi a Seleção de 70. A melhor seleção que já houve na história do futebol.

Nos 70 era o Homem na Lua e Pelé na Terra. Mas o time do Brasil não era apenas Pelé; nascera da mistura do Santos (SP) e Botafogo (RJ) que viviam um grande momento. O técnico, o jornalista João Saldanha, escalara como titulares: Felix (Fluminense) ,Carlos Alberto (Santos), Djalma Dias (Santos), Joel (Santos) Rildo (Botafogo), Piazza (Cruzeiro), Gerson (Botafogo), Jairzinho (Botafogo), Tostão (Cruzeiro), Pelé (Santos) e Edu (Santos).

O povo chamava a Seleção de As Feras do Saldanha. Nas eliminatórias passeávamos sobre os adversários com resultados expressivos: Brasil 2 x Colombia 0,Brasil 5 x Venezuela 0,

Brasil 3 x Paraguai 1, Brasil 6 x Colombia 2, Brasil 6 x Venezuela 0 e Brasil 1 x Paraguai 0

Foram 06 partidas, 23 gols pró e 3 contra. Uma média de 3,7 gols por partida. Os artilheiros foram Tostão com 10 gols e Pelé com 6.

Foi uma expressiva classificação que ajudou a recuperar o prestígio abalado pela péssima campanha de 66 na Inglaterra, quando fomos eliminados na primeira fase daquela Copa.

Mas mesmo com o sucesso haviam pressões contra Saldanha. O que mais transparece é que o presidente Médici, o presidente-ditador do país naquela época, “pediu” ao técnico que colocassem na Seleção o atacante Dário (Atlético Mineiro) de quem era fã. Saldanha respondeu ao presidente com a clássica frase que lhe custou o cargo : “O presidente cuida dos Ministérios e eu cuido da Seleção.”

Zagalo foi quem o substituiu e obviamente convocou Dário. Táticamente, mecheu no time tirando Edu, atacante e colocando Rivelino, um meia defensivo. Colocou Brito (Botafogo) na zaga e introduziu Clodoaldo (Santos) no meio de campo, recuou Piazza (Cruzeiro) para a zaga, tirando a dupla de zaga santista da seleção. O Brasil jogava no ofensivo esquema 4-2-4, com variações para 4-3-3. E isto Zagalo manteve.

Havia a habitual polêmica da mídia. Os jornais falavam de um suposto corte de Pelé, dos problemas pessoais de jogadores. O mundo dava voltas, as expectativas aumentavam e o mês de maio de 1970 chegava no Brasil com a marchinha tocando nas rádios:

Noventa milhões em ação/prá frente Brasil/Salve a seleção//De repente é aquela/ corrente pra frente/parece que todo o Brasil deu a mão/Todos unidos num só coração...Todos juntos vamos...prá frente Brasil , Brasil....”

A Seleção seguia para o México rumo ao Tri. Nele iam os goleiros Felix (Fluminense). Ado (Corinthians) e Leão (Palmeiras), laterais direitos: Carlos Alberto (Fluminense) e Zé Maria (Portuguesa Desportos), zagueiros: Brito (Flamengo). Wilson Piazza (Cruzeiro) e Baldochi (Palmeiras), laterais esquerdos: Everaldo (Gremio) e Marco Antonio (Fluminense), meio de campo : Fontana (Cruzeiro) , Joel Camargo (Santos). Clodoaldo (Santos). Gerson (São Paulo) e atacantes: Jairzinho (Botafogo). Tostão (Cruzeiro), Pelé (Santos), Edu (Santos). Dário (Atletico Mineiro), Paulo Cesar (Botafogo), Roberto (Botafogo) e Rivelino (Corinthians).

Uma euforia gigantesca se espalhava pelo país, bandeiras enfeitando os postes, as vitrines, flâmulas nos carros e nas portas de casas. A torcida era apenas uma, que o Brasil ganhasse. A Copa de 70 tinha 16 times divididos em quatro grupos. O Brasil estava no Grupo 3 junto com a Inglaterra , a Tchecoslováquia e a Romênia. Na primeira etapa as equipes de um mesmo grupo jogavam entre si, os dois melhores saiam para as Quartas de Finais e em seguida os vencedores iam para as Semifinais e por fim a Final. A Copa de 70 foi a primeira a usar os cartões amarelos e vermelhos, antes a expulsão e advertências eram verbais. Tambem se regulamentou as substituições de três jogadores por partidas, sendo que antes eram apenas para caso de contusão. Curiosamente os goleiros em 70 não usavam joelheiras.

O ícone de 70 era a Taça Jules Rimet, o time que ganhasse a Copa por três vezes a levaria em definitivo. Os times habilitados ao tri eram Brasil, Uruguai, Italia e Alemanha, todas bi campeãs. A midia internacional acreditava e proclamava a supremacia do futebol europeu. Porém esta crença começou a ruir no dia 03 de junho de 1970 quando o Brasil entrou em campo numa tarde ensolarada no estádio Jalisco em Guadalara para enfrentar a Tchecoslováquia.

Era a primeira vez que a Copa era transmitida ao vivo para as Tvs no Brasil. O Brasil literalmente parava, e desta vez não para ouvir, mas sim assistir a partida que teve um início frio. Logo aos 12 minutos a Tchecoslováquia fez um gol, mas a festa era brasileira e com um gol de Rivelino, outro de Pelé e outros dois de Jairzinho, que num deles chega a dar um chapéu no goleiro; o Brasil vence por 4x1 aplaudida pela torcida no estádio e festejada nas ruas do Brasil.

No dia 07 o Brasil enfrentou a Inglaterra num jogo que foi considerado a final antecipada. O Brasil jogou cozinhando a Inglaterra. Mesmo que Bobby Moore nao desgrudasse de Pelé. Por outro lado, o mesmo fazia Clodoaldo com Bobby Charlton, o craque inglês. Pelé aos 29 anos de idade em plena exuberância física e técnica cresceu na partida quando obrigou numa cabeçada ao goleiro inglês Banks fazer o que hoje é considerada uma das grandes defesas da história das Copas. Numa partida muito equilibrada e com as duas equipes criando chances de marcar, foi o Brasil que consquistou a vitória apertada, mas significativa, de 1x0; num gol construído pela maestria de passes de Clodoaldo para Paulo Cesar que passou para Rivelino que colocou para Tostão que lançou a Pelé que fez que ia e deixou rolar para Jairzinho completar no fundo das redes.

Já classificado para as Oitavas o Brasil entrou em campo no dia 10 de junho para enfrentar a Romênia que precisava da vitória para não sair do torneio. Decidido o Brasil em 25 minutos marca dois gols, depois, relaxado se descuida e toma um gol aos 35 minutos. No segundo tempo volta a pressionar a Romênia que se defende recuada e tentando contra ataques com seu rápido atacante Dumitrache. Mas aos 28 minutos o Brasil amplia com um belo gol de Pelé. Zagalo retira o líbero Clodoaldo e coloca Edu em seu lugar. Com o buraco no meio do campo a Romênia começa a atacar mais e no fim da partida consegue marcar mais um. Sendo assim o time que mais marcou gols no Brasil na primeira fase da Copa, mas nem por isto deixou de ser desclassificada. O Brasil saiu de campo vitorioso, 3x2, pensando nas Quartas em que enfrentaria o Peru dirigido pelo brasileiro Didi (craque da copa de 58).

No dia 14 de junho ainda em Guadalajara o Brasil enfrentou o Peru. O Peru era um time veloz e forte fisicamente, as estrelas do time eram o habilidoso meia atacante Cubillas e o técnico Didi. Usando de habilidade e muito toque de bola com Pelée como pivô do time, outrora Tostão, o Brasil rápidamente envolveu a defesa do Peru e em 15 minutos já marcava o segundo gol com Tostão, sendo o primeiro de Rivelino 4 minutos antes. Mas o Peru reagiu e Didi fechou o meio de campo do Peru que como resultado começou a atacar com perigo e fez o seu primeiro gol aos 28 minutos. No segundo tempo o Brasil retoma o seu toque de bola e os belos lançamentos de Gerson começam a surtir efeito. Num deles Tostão escapa da defesa e faz o terceiro do Brasil, aliviando toda a torcida brasileira 3x1 para o Brasil!

Mas Cubillas pouco depois aproveita um descuido da defesa brasileira e marca o segundo do Peru. O Peru começa a acreditar num empate, mas Jairzinho logo faz o quarto gol do Brasil.

E enquanto venciamos o Peru por 4x2, naquela mesma tarde do dia 14, a Itália vencia o México por 4x1, a Alemanha vencia a Inglaterra por 3x2 e o Uruguai vencia a União Soviética por 1x0. Todos os semifinalistas eram bicampeões. O mundo afinal teria um Tri Campeão.

As semifaniais foram divididas entre os continentes. Por um lado o Brasil enfrentaria o Uruguai e a Itália jogaria com a Alemanha.

O Brasil entrou em campo contra o Uruguai sob a sombra da derrota de da final de 50 no Maracanã. Sombra que dava vários temores. E o jogo naquele dia 17 de junho iniciou sombrio, aos 19 minutos Cubilla marcava 1x0 para o Uruguai. E o tempo passava torcida brasileira e o Brasil tentava, tocava para Pelé, Tostão se enfiava na área, Jairzinho chutava, mas a bola não entrava. Sufoco. Os locutores calados mal transmitiam a partida. O temor era muito grande. Onde estava Pelé? Onde estava Gerson? Aos 45 minutos do primeiro tempo Clodoado arranca pela esquerda passa rápido para Rivelino que de imediato coloca novamente para Clodoaldo que chuta forte contra rede. Gol! O Brasil empata na hora certa. Gooooooooooooool! Gritava o locutor. Golaço!!!!

No segundo tempo o Uruguai volta fechado e o Brasil se projeta do meio para o ataque e cozinhando em banho maria com seu fabuloso toque de bola vai abrindo fendas através de toques que passam de lado a lado no campo e que graças a habilade dos craques do time fizeram a maravilha que foi ver o Brasil desempatar aos 21 do segundo tempo com Jairzinho e depois ampliar no finzinho com Rivelino.

As pessoas nas ruas do Brasil festejavam: Brasil na final!!! Brasil na final!!!

Eram buzinas, fogos e muita baderna.

E enquanto o Brasil derrotava o Uruguai a Itália vencia com dificuldades a Alemanha por 4x3 num jogo decidido na prorrogação.

Me lembro como se fosse hoje o dia da final da Copa de 70, a cidade em que eu vivia no Brasil acordara forrada de pequenas bandeiras verde e amarelas penduras em fios sobre as ruas.

As pessoas inquietas e ansiosas pelas ruas saiam para comprar pão, bebida e o que fosse de mais urgente e importante pra que nada faltasse na hora do jogo.

E foi assim que no dia 21 de junho de 1970 no estádio Azteca da Cidade do México que Félix, Carlos Alberto, Brito, Piazza, Everaldo, Clodoaldo, Gerson, Rivelino, Tostão, Pelé e Jairzinho entraram em campo para fazer História.

Estava tudo dizendo que o Brasil ia ganhar, o dia lindo, o clima, o sorriso das pessoas, a esperança que cobria todo o centímetro quadrado daquele estádio e do país que tanto torcia por aquele time. E foi Pelé que nos deu a graça aos 18 minutos marcando o primeiro gol de Brasil desferindo uma cabecada no canto esquerdo do goleiro italiano.

A Itália, bem que tentou reagir e empatou numa falha conjunta de Félix e Brito.

Mas como sempre voltando com o empate no segundo tempo o Brasil soube fazer o que melhor sabia fazer e que encantava a torcida e os amantes de futebol, dominar a partida no toque de bola , dar show sem exibicionismo. A arte que fez e faz o nosso futebol.

Gerson aos 25 minutos do segundo tempo descobre a trilha, e num magistral lance indivual dribla e arma a bola para direita desferindo um belo chute a meia altura de fora da área, a bola entro no ângulo esquerdo do goleiro. Gerson sai correndo para o banco e abre os braços. Pura emoção. Brasil 2x1. Cinco minutos depois Jairzinho tranquiliza mais ainda a torcida brasileira. Apertado dentro da pequena área marca o nosso terceiro gol.

A Italia começava a dar sinais de abatimento. O movimento em volta do campo intensifica. Aos 41 minutos do 2º. Tempo Carlos Alberto carimba o nosso titulo com um chute rasteiro e forte do lado direito da área grande depois de uma belíssima deixada de Pelé. Outro golaço. Já se ve jornalistas indo abraçar os jogadores. A festa estava para começar.

Apita o árbrito. Fim da partida, fecham-se as cortinas, termina o espetáculo. Brasil 4. Itália 1. O Brasil e Tri Campeão do Mundo. A Copa do Mundo é nossa!!!

Carlos Alberto recebe o troféu, o beija e o ergue segurando-o com as duas mãos sobre sua cabeça. O povo delira.

A Copa de 70 deu ao futebol brasileiro a maturidade necessária para se dizer o melhor do mundo, para dar aos seus craques a condição real da sua t ecnica e habilidade. Deu a quem tem a oportunidade de acompanha-la como eu nos meus 10 anos de idade, um prazer inenarrável, difícilimo de colocar em palavras. Pelo menos tentei.

Wednesday, February 13, 2008

TROCANDO OS PÉS PELAS MÃOS

Foi num fim de janeiro, há oito anos, que me mudei para os Estados Unidos. Lembro-me que durante um Super Bowl, a grande final do campeonato de futebol americano. Naquele fim de semana, me vi sentando diante da tela de TV na casa de um amigo americano empolgado que me convidava a assistir a partida pela qual mantive interesse por apenas 15 minutos, pois de futebol americano nada entendia e queria saber. Normalmente, brasileiro da minha geração, que se muda adulto para os Estados Unidos tem certa resistência em apreciar o futebol americano. Como gostar de um esporte que consiste em um bando de pessoas se atirarando como loucas sobre outra que tenta escapar com a bola debaixo do braço?

Porém, diante de circunstâncias e por curiosidade acabei me interessando pelo esporte e nos últimos anos decidi me educar a seu respeito. Elegi o Miami Dolphins como o meu time por ser a equipe local e ter glórias como a de ter tido um dos maiores jogadores do futebol americano, o Dan Marino.
Aprendi que o futebol americano tem semelhanças ao de nossa terra. Tem emoção, poesia, lances de genialidade e a capacidade de ser imprevisível, de alcançar resultados num momento único de técnica, garra e superação.
No domingo de 03 de fevereiro me vi empolgado, como o amigo americano de oito anos atrás , sentar-me diante da Tv para assistir o Super Bowl.
A partida entre o Giants e o Patriots tinha importância para os torcedores do Dolphins pois se o Patriots vencessem iriam alcançar o record que o Dolphins mantém de ser a única equipe campeã invicta do Super Bowl desde1972.
A obrigação era torcer para o Giants que era o grande azarão.

O Patriots, favorito, vinha de 18 vitórias consecutivas. O Giants chegava à final capenga.
A partida foi bem disputada desde o início. Mesmo com um touchdown (gol) dos Patriots nos primeiros minutos, podia se ver que o Giants tinha muita garra e foi este o fator que levou a partida indefinida até os minutos finais.
A decisão se deu num momento em que o Giants perdiam por pouco e podiam ganhar se fizessem um touchdown.
Num desses momentos que engrandecem os esportes e criam heróis; momento de delírio para a torcida do Giants que se deu quando seu quarterback (meia atacante) Eli Manning conseguiu escapar de um ataque massivo dos defensores do Patriots que o cercavam e agarravam-lhe a camisa, e aprumando o seu corpo desequilibrado fez um arremesso perfeito da bola que atravessou 2/3 do campo e caiu nas mãos do atacante David Tyree, que saltou um metro e meio do chão para pegá-la acossado por um defensor do Patriots que tentou em vão tirar a bola dele que ao cair no solo segurando-a prenunciava a grande virada que o Giants aplicou no Patriots.
Com um belíssimo touchdown quatro lances depois deste passe decisivo; e isto com outro passe magnífico de Manning fazendo a bola descrever uma hipérbole subindo até um ponto alto e caindo devagar, e isto a 34 segundos do final da partida.
Foi um jogo de grande emoção e como amante do esporte bretão, o aqui chamado soccer, tiro o chapéu para o futebol americano e o recomendo para quem torce o nariz para o esporte.

PS: Fotos do NYDaily News e Arizona Central News